quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Falar de Caetano é foda



Por Gabriel Vilela

É amado. É odiado. Não tem preguiça. Não passa de um oportunista barato. Ele é criativo, está sempre na vanguarda. Ele já está ultrapassado, buscando prestígio em emular novidades já prontas. É um gênio da música popular brasileira. É um boçal, pernóstico, por vezes maligno. É a salvação. É o câncer. É deus. É diabo.

 É Caetano. E escrever sobre ele é difícil. Porque há razões para o odiá-lo muito. E há também razões para amar sua obra. É possível encontrar diversas falhas de caráter nele. Lobão que o diga. Mas também foi um dos líderes do Tropicalismo, movimento que subverteu conceitos antiquados à época e revolucionou a música nacional. Também sofreu e lutou contra a ditadura, chegando até a ficar exilado na Europa.

Entretanto, ao ouvir seu novo disco, me esforcei ao máximo para passar por alto todas estas discussões intermináveis que rodeiam o nome de Caetano, me concentrando apenas no som. O nome do álbum, Abraçaço, e a capa horrível não dão boa impressão. Porém, isso é trivial diante do conteúdo.

Começa muito bem com “A Bossa Nova é Foda”. Com um arranjo muito bem construído, Caetano consegue unir diversas referências (como UFC e Noel Rosa) numa letra bem interessante. "Estou Triste" comove. O verso "estou triste, tão triste / e o lugar mais frio do Rio é o meu quarto" é marcante.

Merece bastante destaque também a canção "Funk Melódico". Faz algum tempo que Caetano vem interessado no funk carioca. O disco mais recente de Gal Costa, produzido por ele, é prova disso. Nessa canção, o ritmo da periferia é bem aproveitado, variações são colocadas, tudo para conduzir uma letra bem "caetânica".

Todavia, o grande destaque vai para "Um Comunista". Nela, Carlos Marighella, um dos maiores comunistas da história do país, morto numa emboscada durante o regime militar, é belamente homenageado. Com melodia pungente e densa, emociona.

"O Império da Lei" é uma boa canção, apesar da ligação tendenciosa com o Pará, que é o hype da vez. Afinal, estamos falando de Caetano Veloso. "Parabéns" é o destaque negativo. É enfadonha, plástica, fake.

É um disco que agrada. A banda Cê merece ser parabenizada pelo bom trabalho. Tem ótimos momentos, e apesar de algumas falhas, ainda é melhor do que muita coisa feita por gente mais nova. Complicada ainda é a tarefa de decifrar Caetano. É foda.


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