terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pelo fim dos Stones


Por Gabriel Albuquerque

No último sábado (15/12), o Multishow transmitiu o último show da aguardada turnê comemorativa de 50 anos dos Rolling Stones. A apresentação em Nova Jersey, Estados Unidos, só confirmou: é a hora e a vez dos Stones se despedirem dos palcos.

Há décadas a banda cedeu e conformou-se com o esquema de gravar discos razoáveis, coletâneas com os antigos clássicos mais algumas músicas novas para garantir boas vendas e o mesmo show repetitivo e acomodado, com as mesmas músicas de sempre.

O show do sábado revelou um Rolling Stones apático, cansado e sem química. Uma fera amansada com o passar dos anos. ''Paint It Black'' foi tão asséptica e sem força que nem parecia a música que embrulhou a década de 1960 com um laço negro e cristalizou o fim do sonho hippie. ''Wild Horses'', dedicada às crianças vítimas do tiroteio numa escola americana, foi permeada por clima de romatismo barato de cantores de barzinho.

Além disso, a banda não se dá bem. Em sua autobiografia Vida, Keith Richards deixou claro que a sua relação com Mick Jagger já não envolve amizade, chamando de ''insuportável'' e dizendo: ''eu adorava Mick, mas já não vou ao camarim dele há 20 anos''. No ano passado, em meio às especulações se haveria ou não uma tour de aniversário, o vocalista chegou a afirmar que o guitarrista não poderia ir a uma possível comemoração dos 50 anos da banda, e revelou que há conflitos de ego no grupo.

Tudo isso é refletido no palco: não há entrosamento entre a banda, que, sem gás, precisou recorrer a diversos convidados para injetar ânimo à apresentação, como o fez Bruce Springsteen em ''Tumbling Dice'' e Lady Gaga em ''Gimme Shelter'' - uma aparição aberrante, com a cantora fazendo o maior estardalhaço possível, com gritos e mais gritos desnessários mas que trouxeram uma energia que até o momento os Stones não conseguiram emplacar sozinhos.

A empresa que a banda se tornou é uma grande mancha na história de um dos maiores grupos da história do rock. Aos poucos os Rolling Stones vão destruindo a si próprios. Não há motivos para continuar. O mais sensato seria despedir-se dos palcos e pendurar as guitarras enquanto estão por cima.

A hora de uma despedida já passou. É tarde, sim, mas não tarde demais. Ainda.


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